Se você acha que o seu filho é único, você tem razão. Cuidar para que cada criança desenvolva o potencial que há dentro de si é ideal para o ensino infantil. Esse é o trajeto até um futuro onde as habilidades da infância estejam desenvolvidas de forma saudável e possam ser bem aproveitadas.

Sabemos que cada professor tem seu próprio método de ensino, constrói uma aula de acordo com sua particular maneira de passar conhecimento, então não podemos esperar que seja diferente com a forma de aprender dos nossos pequenos. As crianças também aprendem de uma forma única, cada um com suas individualidades na hora da concentração. Alguns preferem desenhar, pintar, gesticular, fazer teatro, debater ou até mesmo o bom e velho parar em silêncio para observar uma aula. A realidade é que, ao longo dos anos, nós adultos normalmente já estamos habituados às melhores formas de aprendizagem para nós e usamos esses métodos ao nosso favor.

Você provavelmente lembra daquele momento pouco antes da prova, a sensação de ansiedade por causa do exame. Seus amigos todos enfileirados, esperando para receber as questões, estudando até o último minuto. Aquele menino da frente cantando as músicas que o professor ensinava com letras que explicavam o assunto (inteligência musical), enquanto a amiga do lado tinha um estojo com canetas coloridas e olhava várias vezes pro mesmo caderno: tinha marcado o bisu com a cor verde e rosa no lado esquerdo da folha (inteligência espacial-visual). Há sempre aquele que não precisa repassar o conteúdo, pois escutar o professor falando foi suficiente para entender a mensagem, ou outro que sabe perfeitamente que S = V.T é composto, capaz de criar vários raciocínios a partir destas simples letrinhas (inteligência lógica).

Isso acontece porque os seres humanos desenvolvem formas diversas de adquirir aquela informação. Ao longo dos anos atribuímos nossa facilidade à audição, por exemplo, sentindo que escutar aulas para nós é muito mais fácil de digerir do que passar horas em frente a um livro, ou vice-versa. São apenas diferentes formas de inteligência, naturais para diferentes seres humanos. Com o tempo, esses traços da nossa personalidade vão nos levando à autonomia ao entendermos quais são nossas próprias competências e como elas podem ser usadas na sociedade.

Essa “diferença de inteligência”, tão palpável no nosso dia a dia, nem sempre foi aceita. Então, para compreender melhor sobre o desenvolvimento da inteligência múltipla nos nossos pequenos, primeiramente é necessário entender o que é inteligência.

O que é inteligência?

A inteligência por si só é um termo que define a capacidade de raciocinar e entender, bem como de formular juízo, refletir e construir soluções. Adaptar-se aos diversos tipos de convivência e obstáculos sociais também faz parte do que hoje entendemos como ser inteligente. Atualmente, já consideramos a individualidade como uma variável importante na hora de descrever a inteligência.

Por muito tempo, achou-se que era possível determinar a quantidade de inteligência de um ser humano com base em testes mais objetivos e técnicos. Podemos facilmente perceber a ligação forte que há na ideia de um método como o medidor QI de inteligência, com rankings escolares, testes ou exames de aptidão. Na pressão por ter bons resultados escolares baseados em números para se ser bem-sucedido, alimentamos a constante competição e comparação entre alunos que naturalmente nasceram e desenvolveram aptidões diferentes.

Se pararmos para pensar, crianças pequenas hoje muitas vezes entendem mais de um celular do que os seus pais. O que nos faz achar que o antigo método cadeira e quadro branco, com medidores tão retos de inteligência, possa funcionar do mesmo jeito para eles?

Dessa forma, foi fácil a queda dessa teoria: números não são suficientes para determinar o “fracasso” ou “sucesso” de alguém, e isso é visível na sociedade. É então que conhecemos o Howard Gardner, psicólogo e autor da teoria das Inteligências Múltiplas. Gardner não trabalhou sozinho. Ele, junto com investigadores da universidade de Harvard, analisou e descreveu o que é a inteligência de uma forma inovadora.

Howard conseguiu definir setes tipos de inteligência muito além da lógica matemática de um teste de QI, por exemplo. A teoria de Gardner, hoje amplamente aceita, é aplicada na nossa escola e norteia toda nossa proposta pedagógica. Procuramos trabalhar ativamente para que sua criança e você percebam qual área ela se desenvolve melhor e impulsionar isto. No lugar de colocar aquele professor particular na matéria que ela não vai bem, que tal catalisar aquilo que ela faz melhor que todo mundo?

A proposta ao apresentar as Múltiplas Inteligências era superar os conceitos baseados na pura compreensão de símbolos: ouvimos falar de Inteligências Corporal-Cinestésica, Linguística, Musical, Espacial, Interpessoal, Intrapessoal, Lógico-Matemática e Naturalista. Desta forma, a inteligência vai muito além das concepções antigas, adquirindo um caráter baseado nas particularidades. Cada pessoa terá mais facilidade em determinadas situações do que outras, dependendo de sua construção, de suas características pessoais e do ambiente na qual viveu e está atualmente inserido. Para entender melhor essa teoria, vamos lá falar de cada tipo de inteligência.

Inteligência Corporal-Cinestésica

Muitas vezes nos deparamos com algum esporte em frente a televisão, com aquela interrogação mental de como é possível alguém ser tão habilidoso nas movimentações do próprio corpo. Quem nunca se surpreendeu com as capacidades da ginástica rítmica, ou com a velocidade e resistência de muitos corredores?

Para atuar, praticar esportes ou dançar é necessário conhecer bem o próprio corpo. Muitas crianças desenvolvem facilmente a capacidade de dominar uma bola e atingir um objetivo baseado na atuação física. Se seu filho sempre aparece com ótimas notas na educação física, saiba que ele pode apostar muito na própria inteligência corporal. Nós costumamos e devemos valorizar muito os aspectos do mundo acadêmico, mas sempre paramos para nos maravilhar quando, em um jogo Brasil x Argentina, um jogador vem com aqueles passes incríveis e habilidosos.

Inteligência Linguística

Para desenvolver esta inteligência, buscamos reunir os nossos alunos em torno da escuta, escrita, fala e leitura. É a facilidade que muitas pessoas têm de se fazer compreender por meio de palavras, expressando-se e até mesmo convencendo o outro do seu ponto de vista. Esta capacidade de comunicação todos temos, mas alguns são muito mais sensíveis na organização das palavras e construção de pensamentos, sendo ainda mais eficaz quando se comunica.

A criança com essa habilidade sabe melhor a entonação que deve usar, além de ter uma percepção natural das funções da linguagem. Nossos professores estão sempre atentos às histórias contadas particularmente pelos alunos, pois aí também está inserida sua capacidade de criar, sentir, imaginar e passar adiante o que está na sua mente.

Inteligência Musical

A criança com habilidades para esta inteligência, não apenas aprecia a canção, mas consegue distinguir notas, sons e ritmos com facilidade. Para saber se esse é o caso do seu filho, você pode se perguntar se ele muda de voz quando a música faz um solo mais fino, bate palmas com precisão, e prefere vídeos musicais a desenhos comuns. Se a resposta for sim, fique esperto, talvez nosso artista só precise de um empurrãozinho.

Inteligência Espacial-Visual

A capacidade de criar, recriar, transformar ou modificar experiências visuais está intrínseca a esta habilidade. Um arquiteto, um pintor, designer, artista plástico e até mesmo jogador de xadrez precisam desenvolver bastante essa inteligência para passar visualmente tudo o que desejam.

Essas pessoas sabem os limites internos e externos do que tocam e veem com facilidade, além de memorizarem mais facilmente baseados em cores ou aspectos.

Para perceber essa habilidade nos nossos alunos e aguçar a Inteligência Espacial, podemos apostar em jogo dos sete erros, pintura, comparação e observação de desenhos. Trocar móveis e materiais da sala de aula e pedir para as crianças apontarem as mudanças também é uma maneira simples de trabalhar esta competência. Além, é claro, de utilizar quebra-cabeças durante as práticas para fazê-los exercitarem o olhar espacial sobre o brinquedo.

Inteligência Interpessoal

Líderes, professores, pastores, psicólogos e pessoas em geral que lidam com as emoções dos outros são bons nesse quesito. São mais sensíveis à natureza humana e aos aspectos de um grupo. Não se trata apenas de uma habilidade para um emprego, embora essa seja uma característica necessária para o profissional, mas sim de um uma característica humana muito importante.

Para captar essa inteligência, nossos professores buscam atividades que exercitem a empatia e reconhecimento entre as crianças, com práticas em pequenos grupos ou duplas. Também são úteis jogos de mímica ou recortes de pessoas em revistas, estimulando o olhar do aluno sobre o outro.

Inteligência Intrapessoal-Existencial

Bastante interligada com a inteligência emocional, essa habilidade é extremamente importante para o desenvolvimento em direção à fase adulta. A capacidade de se conhecer emocionalmente desenvolve o ser humano como um todo. A escola precisa estar focada nesse aspecto, e os professores, no intuito de estimular esta característica nas crianças, precisam construir um plano de ensino para a Educação Emocional.

Debater emoções, opiniões, deixá-los escutar os seus amigos e interagir são formas básicas, mas efetivas de fazer o aluno se voltar para suas questões particulares.

Inteligência Lógico-Matemática

A forma mais simples de entender essa inteligência é restringindo aos que fazem boas contas ou são habilidosos com números. Mas isso não é inteiramente verdade. Ela também está dentro de quem consegue organizar pensamentos e ideias de forma metódica, analisar símbolos e deduzir baseado em raciocínios lógicos.

Se seu filho pergunta muito, saiba que ele está deduzindo e interpretando as informações ao seu redor de forma lógica, raciocinando e buscando explicações. Normalmente essas crianças gostam de quebra-cabeças e enigmas nas aulas, ou se dão muito bem com os problemas matemáticos, aparecendo com as soluções que ninguém encontra.

Inteligência Ecológica

Crianças já amam ficar em ambientes abertos. Brincar na praia, sentir a areia, descobrir a fauna e a flora é uma diversão. Até mesmo para sair da rotina, é essencial realizar atividades ao ar livre e desempenhar práticas que envolvam um aprendizado mais específico sobre os animais, os diferentes tipos de planta e toda a diversidade do planeta para potencializar essa inteligência. Nossos pequenos precisam crescer com consciência do planeta Terra como sua casa, que merece ser bem cuidada e amada.

Entenda isso na prática

Para entender ainda melhor esse assunto, costumamos dar um exemplo da nossa própria escola. Um dos nossos alunos não ia bem em nenhuma matéria, possuía dificuldade de concentração e não tinha de interesse por qualquer conteúdo apresentado em classe. Um dia nas férias notamos sua incrível habilidade no campo musical, começamos a incentivá-lo como escola e sugerimos aos pais que o colocassem em aulas particulares de música fora da nossa instituição. Foi aberto o espaço para uma nova criança habilidosa e muito melhor que todos os outros alunos naquele campo específico, o melhor baterista da instituição. Ao se perceber bom em algo, ele se viu capaz, interessando-se até mesmo por matérias onde tinha maior dificuldade com o desejo de se tornar bom em outros assuntos também.

É importante entender que não estamos em busca especificamente da profissão do seu filho. Ele pode desenvolver habilidades em diversas áreas diferentes, como forma de entretenimento, realização pessoal ou para o mercado de trabalho. Esse método, na realidade, não apenas auxilia a criança a se desenvolver no quesito competências profissionais, mas também em se sentir segura emocionalmente para desbravar novos horizontes. Precisamos ter em mente que, mesmo uma criança não tendo facilmente demonstrado possuir uma determinada habilidade, a condição de crescimento lhe permite desenvolver as outras inteligências sem forçá-la ou proibi-la no aprendizado, naturalizando a sua evolução de uma forma saudável e gostosa.

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