Conheça a educação e disciplina positiva, que começa no nascimento. Ao contrário dos extremos da permissividade e da disciplina autoritária, esse meio termo busca o ensino com amor e respeito.

Vivemos em uma era moderna dona de um dia a dia frenético, exigente de respostas rápidas e constante atualização. Se não formos cautelosos, nos resta pouco tempo para dedicar ao que é nossa principal prioridade: a família. Em meio a rotina, a reação mais fácil para quando as crianças se “portam mal” é um grito, um castigo ou pior, uma palmada. Muitas vezes, quando a repreensão vem sem pausa para reflexão, a criança nem mesmo consegue entender a motivação e muito menos o valor que está sendo ensinado.

Após esse momento, nós, como pais, paramos para refletir e nem sempre ficamos felizes ou satisfeitos com a forma e o resultado da lição dada. Afinal, a nossa forma de transmitir o ensinamento está sendo eficaz? A criança está percebendo o conceito ensinado ou está apenas sofrendo?

“De onde tirámos a ideia louca de que para conseguirmos que uma criança seja boa, primeiro devemos fazê-la sentir-se mal?” é a famosa frase da norte americana Jane Nelson, uma das mentoras da Disciplina Positiva.

O que é a disciplina positiva?

O conceito da Disciplina Positiva é baseado nos livros da Dra. Jane Nelsen e diversos coautores, como Lynn Lott e Cheryl Erwin. Ensina habilidades sociais e habilidades de vida para crianças, adolescentes e adultos que possam conseguir solucionar problemas por toda a vida.

Nós já falamos sobre a pedagogia afetiva, um dos fundamentos do nosso ensino, discussão tão palpável no século XXI. Com base no psicólogo Jean Piaget, entendemos a equivalência entre as construções afetivas e cognitivas dos indivíduos, das quais nascem as reações, a obediência e os sentimentos de carinho e ternura.

Piaget nos explica que afetividade e inteligência são de natureza distintas, mas ambas determinam as interações entre sujeitos, objetos, o “eu” e os pensamentos sobre os outros. A importância do afeto durante o processo de aprendizagem desafia os educadores, pois é determinante para a qualidade em sala de aula.

Os laços afetivos e de confiança são formados quando os pais atendem consistentemente e de forma amorosa às necessidades do bebê, em consideração, empatia e respeito pelas emoções das crianças. Por isso, nosso objetivo é a manutenção de um espaço para aprender com todo o afeto e acolhimento típico do lar. Uma comunicação não violenta entre pais e filhos, educando com firmeza e gentileza, é a fundação da disciplina positiva.

Quando somos amáveis e firmes, pensamos no bem-estar do nosso filho e o nosso próprio: ficamos mais conscientes das nossas próprias emoções, da medida do nosso tom de voz, do que estamos estabelecendo como prioridade e somos mais claros no valor que queremos transmitir. Ao sermos amáveis com a criança, respeitamos os nossos sentimentos e os dela, tornando toda a lição mais sólida. É um ciclo construtivo para toda a família.

A atitude contrária, de disseminar medo, cria sentimentos de vergonha e humilhação que serão marcantes e participarão do crescimento da criança, principalmente devido a importância das relações sociais durante a primeira infância. O medo pode gerar comportamento antissocial no futuro, criando jovens mais suscetíveis ao abuso de substâncias, ensinando que a violência é a forma de resolução, prejudicando vínculos e danificando a vida em sociedade. Crianças que se sentem conectadas à sua comunidade tendem a apresentar menos comportamentos inadequados e mais facilidade de se sentir segura, confiante e autônoma.

Na prática, como posso utilizar a educação positiva?

  • Pratique a empatia e o respeito, entendendo a necessidade da criança

A disciplina positiva começa desde o nascimento, guiando gentilmente os filhos para longe do que consideramos o valor errado. Já falamos aqui sobre a importância de permitir que a criança seja protagonista da própria história na medida do seu próprio crescimento e, para efetuar isso, a educação positiva visa ajudar a criança e explorar com segurança, vendo através dos nossos olhos, criando também empatia.

Seja sensível também às fortes emoções dos seus filhos, compreendendo que elas vêm também em consonância com o crescimento. Assim, respeitamos nossos filhos como seres individuais cujos sentimentos estão em construção e precisam de respeito e espaço para crescer positivamente.

  • Permita que aconteçam consequências naturais e trabalhe em conjunto

Quando deixamos a criança explorar, também entendemos suas necessidades e motivações para os comportamentos, além dos sentimentos por trás das ações – isso possibilita que você se sente com o seu filho e resolva o problema em conjunto, de maneira que a dignidade de todos seja respeitada, guiando amorosamente e com tranquilidade. Enfrentando de forma calma e mais autônoma os problemas, seu filho também experimentará as consequências naturais dos seus atos e entenderá os motivos pelos quais a atitude cometida pode ser errada.

Essa proatividade pede que você converse com o seu filho antes de intervir: explique os motivos pelos quais ver televisão o dia inteiro não é bom, ponderando a forma de falar, entendendo as habilidades de desenvolvimento da criança, propiciando um ambiente de intimidade e afeto que facilitará que ele te entenda e internalize o que está sendo ensinado, criando o mais propício “sim”.

Em vez de repreender com “você é um menino mau”, fale sobre a ação cometida. As críticas não devem recair sobre quem a criança é, mas sim no que fez.  Quando seu filho atuar em consonância com o aprendizado, elogie e incentive com o devido cuidado. Todo esse ciclo estimula a criança a pensar sobre as próprias atitudes, as situações cotidianas e os erros cometidos, alimentando também o pensamento crítico.

  • Seja um exemplo e estabeleça regras

Para além disso, a educação positiva entende que os filhos também aprendem através de exemplos e regras claras – não mutáveis apenas por choro, birra e insistência por parte do filho ou estresse por parte dos pais. É importante oferecer um modelo com ações e relacionamentos positivos dentro e fora da família. Quando reagimos mal diante da tensão, raiva ou mágoa, os danos são grandes e necessitam, depois, de mais tempo dedicado para manter e reparar o relacionamento positivo.

Para a educação positiva, os limites são benéficos, criando a resiliência para lidar melhor com os problemas. Por isso, estabeleça combinados, seja claro e não ceda. Seu filho vai aprender a reagir de modo positivo em situações adversas, superando frustrações e entendendo mais sobre responsabilidade. Se o ambiente for de colaboração, seu filho vai internalizar esse ciclo.

Aprender a usar a disciplina positiva nem sempre é fácil: é um trajeto de aprendizado também para nós, pais, especialmente quando fomos criados em um ambiente mais tradicional e autoritário. Durante os estresses do dia a dia, várias vezes nos pegamos descontando nos outros e, por vezes, em nossos filhos. Isso não significa que, por outro lado, devemos deixá-los fazer o que querem: é possível ensinar limites sem gritar, bater, punir ou humilhar. Por isso, conte com a nossa instituição como apoio, sinta-se livre para conversar com outros pais e procurar ajuda profissional.

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